Wednesday, March 15, 2006

Namoricos

A minha vizinha Outra. Está com uma idadezinha mas sempre quis que a tratassemos na segunda pessoa do singular. Na Rua Entre-as-Eiras, mora a minha tia-avó (que ainda se lembra de ver, quando criança, a Torre do Relógio do Castelo de Penela). Em frente mora Fulano-de-Tal.
A Outra é porreira, simpática e bem-disposta. Mas há quem diga que ela é estranha. Bom, todos nós somos diferentes e temos as nossas manias. Curiosa, não deixa de ser a lápide de um seu familiar - ela não quis colocar nada daquelas coisas de nome, nascimento e falecimento; pôs só uma frase e nínguem sabe quem ali está.
Bom, no sábado da festa, depois do jogo houve a febrada. Pó convívio. Muita carne. Muita broa. Muito pão. Muito sumo. E, claro muito vinho. Estavam por ali umas mesas e umas cadeiras e aí vai uma cartada. E vinho a regar. Fulano-de-Tal esteve a jogar - e a beber. Passadas umas horas largaram-se as cartas. Começou a desgarrada, os gaiteiros (que tinham feito a arruada à tarde e animado o intervalo do jogo da bola) tocavam, e Fulano-de-Tal e o outro que não é de cá e já foi GNR a cantar. Bem, aquilo era cada bujarda. Pelo meio senti um insulto de Fulano-de-Tal: qualquer coisa a respeito do outro que ele fez rimar com merda. Mas o vinho corria goela abaixo e já nínguem dava conta de nada.
Era noite, fui para casa. A música ainda se ouvia mas os gaiteiros tinham que ir embora. Vinho ainda havia.
Fulano-de-Tal, recolhendo a casa, passou lá à minha porta:
"Eh pessoal, e logo é pó baile."
"Ah, se calhar não."
"O quê? Não digas isso, ó rapaz! Tens que lá ir"
"Depois se vê"
"Eu quando tinha a tua idade não faltava a um. Ver as cachopas!"
E agora meus amigos vinha a revelação. Algo que nunca me tinha ocorrido e ainda hoje me causa alguma perplexidade:
"Uma vez namorei com esta aqui. - Apontando em direcção à casa da Outra. - Ainda foi algum tempo. Mas ela é muito esquesita. Acabou tudo."
"Pois então, uma pessoa tem que ver com quem se entende melhor."
"É, rapaz. É isso. Olha, vou cá. Vá e aparece lá no baile!"
Onde quero chegar? Bem, uma aldeia pequena. Que raio de promiscuidades se passaram outrora com aquela gente? Hoje, o pessoal tem carro, vai para todo o lado (trabalhar, estudar, passear) e conhece muita gente e míudas diferentes. Mas antes? Que grande salganhada não vai para ali.

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