Tuesday, March 14, 2006

Informações

Caríssimos leitores, a vossa espera é agora recompensada. Aposto que se interrogaram antes de mais com a palavra Rabarrabos. Aqui ficam então os devidos esclarecimentos. Rabarrabos é uma aldeia da freguesia de São Miguel, concelho de Penela, distrito de Coimbra. Infelizmente as informações de que disponho só alcançam o ano de 1911. Aqui ficam elas:
  • Em 1910, ocorre a implantação da República. O Estado, na necessidade de saber com o que contava, faz no ano seguinte um recenseamento da população. O resultado de Portugal Continental e Insular soma cerca de 6 milhões de habitantes. E em Rabarrabos, 283 habitantes distribuíam-se por 76 fogos.
  • Em 1924, face às necessidades da população a Capela em honra do mártir São Sebastião é ampliada.
  • O Estado Novo desejava (até certo ponto) a diminuição da taxa de analfabetismo; para isso também terá contribuído a inauguração da escola primária em 1935.
  • No ano em que termina a II Guerra Mundial, a aldeia vê aberta a estrada que a liga a Penela. E como faziam antes? Devia ser só um caminho de cabras.
  • Em 1956, constitui-se a Comissão de Melhoramentos, responsável por entre outras coisas a festa da aldeia (com o jogo de futebol solteiros-casados, que ainda hoje traz muitos espectadores, upa upa).
  • No ano seguinte, ocorre, na minha singela opinião, algo desnecessário: a mudança do nome da aldeia - Rabarrabos era agora São Sebastião. A ideologia do Estado Novo não apreciava esta toponímia considerada ofensiva. Hoje, ainda sobram Pichas e Vendas da Gaita; portanto quero aqui afirmar publicamente o meu desejo de ver no meu remetente a bela localidade de Rabarrabos.
  • O progresso chegava. Em 1962 (ainda era Duarte Pacheco o ministro das Obras Pública? - Bem haja), inauguram-se os novos arruamentos. Os adeptos benfiquistas saíam para as novas ruas festejar a conquista pela segunda vez da Taça dos Campeões Europeus.
  • E em 1963, a instalação da corrente eléctrica e iluminação pública. Os sepiternos não tinham agora desculpa para andar aos "S'S" pelas ruas após o pôr-do-sol. E dentro de algum tempo a salga será substituída pelos congeladores e frigoríficos.
  • 1964, o primeiro "motard" de Rabarrabos fazia a sua aparição em cima de uma lambreta.
  • Em 1966, a caixa que revolucionou o mundo chegava pela primeira vez a um lar de Rabarrabos. Mas o Sport Lisboa e Benfica tem preto(, cinzento) e branco no equipamento? Onde estão as camisolas berrantes que o seu hino canta?
  • É meio-dia em Rabarrabos, na terra o agricultor apoia a enxada perpendicularmente ao chão, já não há sombra, é hora de ir para casa e almoçar. Este gesto apartir de 1967 vai gradualmente desaparecer. Rabarrabos tem agora na torre sineira da Capela de São Sebastião um relógio com aparelhagem sonora. Também neste ano, o pecúlio de alguém servirá para comprar o primeiro automóvel de Rabarrabos; o que não significa que tenha sido o primeiro a circular lá. O mais antigo que me lembro é o boca-de-sapo azul claro do Tito do Santo que no final da sua vida ía consumindo 20l aos 100km!
    Espantoso aquele bólide.
  • A festa do São Sebastião passou a realizar-se em Agosto - 1969.
  • Em 1972, a festa é reposta no Domingo da Pascoela. Em Agosto faz muito calor para se realizar o jogo solteiros-casados, além disso a febrada que se faz depois atraía mais moscas.
  • A estrada Rabarrabos-Penela conta 3km. A liberdade do 25 de Abril permite às pessoas exprimirem-se e comunicarem como antes não podiam fazer. Para isso, são importantes os 2km que em 1975 são alcatroados dessa mesma estrada.
  • Em 1977, é construído o Centro Social (no cabeço). Oficialmente, serve para bailes, actuações, almoços, (outrora) teatro e espectáculos de magia, no segundo piso há peças da etnografia local. Mas para mim é simbolicamente a sede do glorioso clube C.D.R.C.S. ( http://www.hattrick.org ).
  • 1978, o cheiro do alcatrão entra casa dentro. As ruas da aldeia estão asfaltadas.
  • Os jogadores do nosso clube já não aguentavam ter que ir tomar banho à lagoa ou em casa com uma bacia. Mas, em 1982 a água canalizada chegou. E o novo balneário foi uma realidade.
  • As ruas estavam bonitas, mas faltava qualquer coisa. Em 1983, a toponímia é inaugurada. A rua de entrada pela estrada de Penela: Rua do Caminho da Vila. As ruas principais: Rua das Quintas, Rua da Comissão de Melhoramentos. Os largos, para a brincadeira e para a actuação do rancho: Largo do Rossio e Outeirinho do Santo. A morada onde o autor do blog recebe os fãs para além da Rua das Quintas: Rua Dr. Manuel Ramos e Largo do Soalheiro (a professora de português do secundário delirava porque os largos e ruas do soalheiro são em qualquer ponto do mundo o local preferido das senhoras para porem a conversa - e os mexericos - em dia, muito corte-e-costura se fez à minha porta).
  • O grandioso Anno Domini 1984! Serviu de título a um livro. Eu nasci. O parque infantil foi construído; bem como o campo de futebol - onde se realiza o solteiros-casados (então e antes? Não se jogava?). Mas actualmente meus caros, perdõem-me a apropriação, o campo de futebol tornou-se no Estádio do Eucaliptal, grandioso recinto onde o C.D.R.C.S. Rabarrabos recebe os seus oponentes.
  • O Monte de Vez deixa de ser um mero local com uma vista fantástica para ser local de peregrinação pelo menos uma vez por ano. É abençoada a Capela da Senhora do Monte - 1988.
  • Em 1989, mais um erro tremendo. Abriu-se a porta de entrada para um povo rude - a estrada Rabarrabos - Casas Novas. Ainda hoje não os conseguimos entender, quanto mais civilizar. Um missionário precisa-se.
  • 80 anos depois, a informação era diferente. Portugal tinha mais 3,9 milhões de pessoas relativamente a 1911. O censo de 1991 revela, relativamente a Rabarrabos, 84 fogos onde habitam 220 pessoas. Curioso, o número de fogos aumenta e a população diminui. As famílias não são tão numerosas, deixam de estar debaixo do mesmo tecto 3 ou 4 gerações, a qualidade de vida aumenta - explicações são várias para a diminuição da média populacional de 3.7 para 2.6 hab/fogo( http://www.janelanaweb.com/digitais/portugalmexe.html ).
  • Mais uma ligação para chegar mais rápido a Rabarrabos: a estrada até ao Espinheiro aberta em 1994.
  • No novo milénio é preciso conhecer a evolução da população. Em 2001, há mais de 10 milhões de pessoas a viver no território português. 182 estão em Rabarrabos, dispersas por 75 fogos. A média desce novamente: 2.4 hab/fogo. Conclusões? Tirem as que quiserem.
  • O progresso continua. Estrada até Chão de Ourique aberta. Será que foi neste Ourique que em tempos medievais se guerreou? É plausível. Ourique no Alentejo era muito longe, não fazia sentido irmos lá dar uma coça aos muçulmanos se o limes de Portugal estava no rio Tagus.
  • Fernando Antunes, cujo pai era primo da minha avó, visita em 2003 Rabarrabos na condição de Governador-Civil de Coimbra. Ele fora anteriormente presidente da câmara municipal de Penela desde 1981 e durante 23 anos e é hoje deputado na Assembleia da República na bancada laranja ( http://www.gppsd.pt/default.asp?s=11585&i=1929 ).

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ricardo, é só para lembrar que em rabarrabos o sol do meio dia nunca deixou sem sombra a enxada que o agricultor coloca na perpendicular á terra.
Este comentário é só para salvaguardar eventuais mal entendidos quanto à situação geográfica da nação Rabarrabense.
Parabéns pelo blog.
CP

7:22 pm  

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